segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Modernização e futebol científico no SC Internacional: a década de 90

A modernização do departamento de futebol do SC Internacional teve como base inicial a criação de alguns projetos importantes como: (1) Modernização e remodelação de toda a estrutura do departamento de futebol; (2) Criação do Internacional Data Center (Intercenter), uma rede de informática com 14 computadores no Beira-Rio, contendo programas específicos para o futebol, como jogos virtuais, modelos de técnicas, esquemas táticos, simulações de jogadas; (3) Criação do departamento de psicologia e pedagogia; (4) Cine-vídeo; (5) Construção de módulos de treinamentos específicos para as categorias de base; (6) Promoção de palestras com especialistas em futebol (técnico, atleta, pesquisador etc.) para os jogadores das categorias de base; (7) Programa de integração entre as categorias inferiores e profissional; (8) Criação de um modelo tático único para todas as categorias de base até os profissionais (Rodrigues, 2003).

Novas técnicas de treinamento

Ao elaborar novos módulos de treinamento para aplicar no SC Internacional, Medina consultou jogadores consagrados e especialistas em chutes fortes e de efeito, como Rivelino e Neto, visando aperfeiçoar as técnicas de chute. Utilizou também métodos de treinamentos de outros esportes coletivos. Em 1994, Telê Santana auxiliou Medina a desenvolver a técnica de treinamento que utiliza uma cesta para ensinar e aperfeiçoar lançamentos, visando melhorar a precisão de passes e lançamentos de longa distância. O treino com a cesta utiliza-se ainda do paredão metálico que consiste basicamente em “(...) uma espécie de paredão metálico com várias marcações e uma cesta. O jogador deve acertar as marcas na parede ou tentar colocar a bola na cesta, para aprimorar a precisão dos lançamentos” (Zero Hora, 17/05/1997, Esportes, p. 6). Esta técnica consiste em colocar cesta a certas distâncias e ordenar que os jogadores lancem bolas tentando acertá-las dentro da cesta. Com esta técnica, Telê Santana ensinou lançamentos a Raí, Palhinha, Juninho Paulista, Muller e outros grandes atletas. O treinador Guto Ferreira trouxe para o SC Internacional outros métodos de treinamento utilizados no basquete, que havia adotado quando trabalhava no São Paulo Futebol Clube. É evidente a influência de Telê Santana e Medina no trabalho de Guto. Por exemplo, o uso de viseiras no rosto dos atletas com a finalidade de impedir que os mesmos olhassem para o chão. Esta técnica era comum nos treinos da equipe feminina de basquete do BCN de Piracicaba – SP. Segundo Guto, essa técnica tem o propósito de melhorar o controle de bola, sem necessidade de o jogador olhar para o chão, dando, conseqüentemente, mais velocidade ao time e dinâmica ao jogo. Segundo Corrêa (Zero Hora, 17/05/1997, p.6), estas formas de treinamento significam a implantação de modelos de treinamento para desenvolver os fundamentos do futebol nas categorias de base, sendo mais umpasso na consolidação do futebol científico no Beira-Rio. Neste sentido, A idéia de utilizar viseiras entre os garotos faz parte da reformulação nos métodos de formação de jogadores no Estádio Beira-Rio. Chefiados pelo Coordenador João Paulo Medina, os treinadores das categorias inferiores procuraram desde o início do ano novas técnicas pedagógicas para o desenvolvimento de fundamentos como o passe, o lançamento e o chute a gol (Zero Hora, 17/05/1997, p.06). A necessidade de modernizar o treinamento está em consonância com a produção social de um jogador de futebol moderno, para preencher as demandas criadas pelo futebol atual. Como afirmava Medina, “Temos que modernizar os treinos nas divisões de base. Não é mais possível usarmos as mesmas técnicas de décadas atrás” (Zero Hora, 17/05/1997, p. 6). Dentro desta nova perspectiva de formação de jogadores, orientada pela teoriaglobalista, a polivalência é um dos princípios norteadores. O coordenador Medina ressaltava que, nas categorias de base do SC Internacional, o lateral que não souber cruzar, o centroavante que cabeceia mal e o meia que lança com defeitos estavam com os dias contados. Ao lateral, é ensinado defender e atacar, cruzar e marcar. Ao centroavante, é cobrado que faça gols de chutes e cabeceios, bem como até mesmo contribuir com o meio-campo na marcação. Portanto, as funções se diversificaram no futebol moderno, especialmente no momento de competições acirradas e altamente comercializadas. Além das técnicas já referidas, adotou-se uma forma de adaptar o atleta, desde sua formação, à pressão da torcida adversária, na tentativa de internalizar e naturalizar essa pressão na consciência do atleta. Assim, estudaram métodos de treinamento da seleção russa de vôlei masculino, que treinava ao som potente de alto-falantes com gravações de xingamentos e vaias de torcidas adversárias. Isso faz com que os jogadores se acostumem ao barulho das vaias de torcidas, passando a encará-las com naturalidade. Tal técnica também foi adotada no SC Internacional, com bons resultados.

Para ler o artigo completo: "Modernidade, disciplina e futebol: uma análise sociológica da produção social do jogador de futebol no Brasil" de Francisco Xavier Freire Rodrigues


Acesse:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222004000100012&lang=pt

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